Relações de trabalho e gênero em práticas discursivas do movimento nacional de catadores de materiais recicláveis

Esta dissertação tem por objetivo refletir sobre a construção discursiva de relações de trabalho e de gênero constituídas no site do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), descrevendo e analisando como se constitui a comunidade discursiva dessas práticas e as formações discursivas sobre relações de trabalho e gênero assumidas por essa comunidade. A pesquisa, de caráter bibliográfico e documental, situa-se na perspectiva teórico-metodológica da Análise do Discurso Francesa (AD) e aborda a prática discursiva como conceito central, considerando-se que é possível entrever as formas de como se materializa a ação do homem pela linguagem. O percurso teórico-metodológico traça um olhar sobre as práticas discursivas do MNCR a partir dos pressupostos de Maingueneau (1997; 2005), Charaudeau e Maingueneau (2014) da contextualização e problematização das relações de trabalho e de gênero, tomando por referência Pinto (2010), Engels (1896/2013), Antunes (2010), Alves (2010), Cisne (2012), Álvaro (2013), Souza-Lobo (2011), Saffioti (2004) e Kergoat (1989; 2010), da contextualização do surgimento do movimento dos catadores por meio de Silva (2006), da apresentação do site do MNCR e da identificação das ações que o constituem. A análise permite, principalmente, revelar se as formações discursivas sobre relações de trabalho e de gênero assumidas pelos catadores estão centradas nos princípios de igualdade ou de desigualdade, assim como traçar um perfil dos sujeitos enunciantes e demonstrar os mecanismos linguístico-discursivos que se destacam em cada prática discursiva. O corpus constitui-se de dez materiais em formato PDF, caracterizados como documentos de cunho formativo, orientativo e de sensibilização, estruturados em panfleto, cartaz, declaração, cartilhas e folder. Os resultados caracterizam a ação dos catadores no site como uma prática política constituída de ações particulares que se intercruzam e se constroem como práticas discursivas direcionadas à autoconstituição do MNCR, à formação de sujeitos políticos e à sensibilização da sociedade para com a proposta do movimento. Os processos discursivos ora integram-se para demarcar um lugar de fala do catador organizado, ora dispersam-se e revelam, de forma mais acentuada, as contradições das relações de trabalho e de gênero ainda presentes no discurso do movimento.