Mineralogia e geoquímica de terra preta arqueológica para identificação de padrão ocupacional pré-histórico no vale do Baixo rio Amazonas (Juruti, Pará)

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2011-12-16

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Universidade Federal do Pará

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COSTA, Jucilene Amorim. Mineralogia e geoquímica de terra preta arqueológica para identificação de padrão ocupacional pré-histórico no vale do Baixo rio Amazonas (Juruti, Pará). Orientador: Marcondes Lima da Costa; 2011. 108 f. Tese (Doutorado em Geoquímica e Petrologia) - Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica. Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 2011. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br:8080/jspui/handle/2011/14627. Acesso em:.

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Na Amazônia são inúmeras as ocorrências de solos modificados pela ocupação de antigos povos ceramistas. Estes solos, conhecidos como Terra Preta de Índio ou Terra Preta Arqueológica (TPA), geralmente ocupam pequenas áreas, mas também são encontrados em áreas contínuas por dezenas de hectares. Algumas dessas TPA são circundadas por solos conhecidos por Terra Mulata Antrópica (TMA). As TPA apresentam cor escura, teores elevados de Ca, Mg, P, Mn, Zn, Cu e C orgânico, fragmentos cerâmicos (FC) e carvão. Já a TMA, embora de cor escura, é desprovida de FC e os seus conteúdos de Ca, Mg, P, Mn, Zn, Cu e C orgânicos são menores em relação à TPA, porém mais elevados quando comparados aos solos adjacentes (AD). Na região do Baixo Amazonas extensas áreas de TPA são acompanhadas por faixas igualmente extensas de TMA, que foram delineadas durante as pesquisas de salvamento arqueológico para implantação da indústria de extração e beneficiamento de bauxita da ALCOA, no município de Juruti, Pará. Estes locais, conhecidos como sítios arqueológicos, ricos em fragmentos cerâmicos (FC) e matéria orgânica, foram investigados com o objetivo de conhecer as possíveis inter-relações entre os solos TPA e TMA, a real interferência da ocupação pré-histórica nos solos e delinear o padrão ocupacional, contribuindo assim para o esclarecimento da cronologia de ocupação da Amazônia. Foram realizadas amostragens de solos e de fragmentos cerâmicos (FC) em dois sítios arqueológicos com TPA e TMA selecionados para este estudo. As amostras de solo e FC foram coletadas em perfis pedológicos e em uma malha regular (60 x 120 m), representativa das TPA, TMA e AD. Em seguida foram submetidas a análises mineralógicas por DRX, MEV-EDS e microscopia óptica; e químicas (incluindo os elementos maiores e traços) determinadas por ICP-OES e ICP-MS. Além das análises químicas e mineralógicas, os FC foram ainda examinados arqueologicamente com lupa binocular e datados por termoluminescência (TL). Os fragmentos de carvão foram datados empregando-se o método radiocarbono (C14) aplicando-se a técnica AMS. Os resultados obtidos mostram que os solos são constituídos essencialmente por quartzo e caulinita, e em menores proporções por illita +muscovita, goethita + hematita e anatásio. Estes minerais refletem a associação Al2O3-Fe2O3-TiO2 interpretada como a assinatura dos solos derivados de crosta ferro-aluminosa de perfis lateríticos, equivalente aos solos adjacentes (AD). Embora as TPA e TMA guardem semelhanças mineralógicas e químicas entre si, diferem parcialmente nos teores de cada espécie mineral e nas concentrações dos elementos químicos. Por outro lado apatita, fosfato de Al e cristobalita são praticamente exclusivos das TPA, raramente encontrados na TMA e ausentes nos solos AD. A apatita e o fosfato de Al representam as principais fontes dos altos teores de Ca e P. Os solos TPA e TMA se caracterizam também pelo elevado conteúdo de matéria orgânica e se deixam identificar pela associação P2O5-CaO-MgO-Na2O-K2O-Zn-Cu-Mn-Ba-Sr-Li-Ni, interpretada como indicadora de atividade humana. Os mapas geoquímicos desses elementos e de distribuição dos FC permitiram delimitar as áreas de TPA como de ocupação permanente, delimitadas pelas concentrações mais elevadas. Foram identificadas sete manchas de solos enriquecidos e mais escuros, agrupadas em dois núcleos principais, separadas por corredores de solo equivalente à AD (associação geoquímica Al2O3-Fe2O3-TiO2-Cr-Y-V-Zr). Tais manchas, com abundância de FC, foram interpretadas como locais de antigas aldeias. A TMA segue em extensa e contínua faixa paralela ao rio, entre a TPA e a AD, interpretada como locais de acampamento ou de atividades agrícolas. As características estilísticas e a sequência cronológica destes fragmentos indicam que a ocupação está representada principalmente por duas fases cerâmicas: Konduri, mais recente e Pocó, mais antiga. As idades obtidas por C14 e TL sugerem que estes povos ceramistas provavelmente se estabeleceram na região entre 140 AC e o século XIII da nossa era, tendo as TPA se formado subsequentemente. Os fragmentos cerâmicos constituíam vasilhas de uso cotidiano e cerimonial. Sua composição mineralógica e química se assemelha à argila utilizada pelos artesãos atuais. As diferenças se resumem aos elevados teores de fósforo (entre 1 e 4 % de P2O5) sob a forma de fosfatos de Al e Fe amorfos, que na argila atual se encontram em nível crustal. Isto reforça a proposta de sua origem relacionada ao uso, especialmente ao cozimento dos alimentos. Portanto, diante das similaridades mineralógicas e químicas entre os FC de culturas e cronologias distintas é possível inferir que as matérias-primas utilizadas pelos povos antigos dessa região, tiveram sempre a mesma proveniência ou ambiência geológica, iniciada há pelo menos 2.000 anos atrás, e que alcançou os povos atuais da região. Portanto, as áreas de TPA e TMA que ocupam o vale do Amazonas na região de Juruti por mais de 350 ha, indicam que elas são consequência de atividades humanas pré-históricas, extensivas e intensivas, que imprimiram significativas transformações aos solos pré-existentes. As condições de clima quente e úmido, além da densa cobertura vegetal permitiram a sua formação.

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COSTA, Jucilene Amorim. Mineralogia e geoquímica de terra preta arqueológica para identificação de padrão ocupacional pré-histórico no vale do Baixo rio Amazonas (Juruti, Pará). Orientador: Marcondes Lima da Costa; 2011. 108 f. Tese (Doutorado em Geoquímica e Petrologia) - Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica. Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 2011. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br:8080/jspui/handle/2011/14627. Acesso em:.