Exploração de narrativas míticas indígenas para o ensino de matemática nos anos iniciais

Desde as últimas décadas do século 20, os estudos acerca da Educação Escolar Indígena no Brasil avançaram significativamente a partir dos movimentos sociais em prol dos povos indígenas, que se organizaram na busca por autonomia cidadã. No centro dessa luta esteve a reivindicação de uma escola com um currículo e um ensino que inserisse na formação valores e saberes étnicos culturais dos povos indígenas, associados ao conhecimento científico. Com base nas proposições de Farias da Silva (2003, 2014) e Farias (2006), os mitos contemplam essa proposta, por ser uma das formas tomadas pelas populações de tradição oral, ao longo dos séculos, para explicar a natureza e a cultura, bem como para manter suas memórias históricas vivas. Assim, identificamos na tetralogia Mitológicas de Claude Lévi-Strauss (2004, 2005, 2006, 2011), publicada originalmente entre 1964 e 1971, uma demonstração da importância das narrativas míticas para se conhecer o modus vivendi das comunidades indígenas brasileiras. Em nosso estudo, tomamos essa obra como um caminho para adentrarmos os mitos dos indígenas do estado do Tocantins, em especial os Xerente, para responder à seguinte questão: de quais maneiras será possível dialogar com as narrativas míticas dos povos indígenas do Tocantins para abordar pedagogicamente os conteúdos curriculares da escola básica dessas comunidades? Assim, nosso estudo teve como objetivo geral investigar possibilidades de exploração pedagógica das narrativas míticas indígenas para o ensino de Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em escolas indígenas do estado do Tocantins. Com essa finalidade, realizamos uma pesquisa bibliográfica com enfoque qualitativo, em busca de implicações para a Educação, especificamente a Educação Escolar Indígena, em uma perspectiva interdisciplinar (FAZENDA, 2003) que integre cultura e matemática, transversalize a trajetória da Escola Indígena em seu processo de construção e reconstrução identitária, que envolva a participação de professores indígenas e da comunidade. Para organizar as sugestões didáticas, fundamentamo-nos no Referencial Curricular para Escola Indígena (RCENEI/Indígena, 1998) e nos princípios estabelecidos por Farias da Silva (2003) e Farias (2006; 2012), que propõem as narrativas míticas como indicadores de valores e conhecimentos que possibilitam o diálogo entre os saberes da tradição, a experiência de vida e a valorização das práticas socioculturais. A pesquisa apresenta como contribuição um corpo de sugestões de exploração didática das narrativas míticas para o ensino de Matemática na escola indígena dos Anos Iniciais.