Necrosaber e regimes de veridição: governamentalidade bioeconômica da plantation do dendê no Brasil e na Colômbia

Carregando...
Imagem de Miniatura

Tipo

Data

2020-12-14

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

item.page.theme

Editora(s)

Universidade Federal do Pará

Tipo de acesso

Acesso Aberto
Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazilaccess-logo

Contido em

Citação

SILVA, Elielson Pereira da. Necrosaber e regimes de veridição: governamentalidade bioeconômica da plantation do dendê no Brasil e na Colômbia. Orientadora: Rosa Elizabeth Acevedo Marin. 2020. 379 f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido) - Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Belém, 2020. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br:8080/jspui/handle/2011/13997. Acesso em:.

DOI

A tese intitulada Necrosaber e regimes de veridição: governamentalidade bioeconômica da plantation do dendê no Brasil e na Colômbia consiste num estudo aproximativo realizado empiricamente em dois países da Pan-Amazônia marcados pela presença de múltiplas territorialidades específicas e povos tradicionais em colisão com megaempreendimentos econômicos fomentados pela coalizão desenvolvimentista objetivada em estratégias empresariais e políticas governamentais. Essas relações de poder e dominação são permeadas por conflitos socioambientais nascidos da confrontação entre diferentes modos de existência coletivos versus tecnologias políticas referidas a formas de uso, apropriação e mercadorização dos recursos naturais. Nesses territórios vive-se uma guerra, não simplesmente em sentido metafórico, mas em sua literalidade. Brasil e Colômbia estão entre os cinco países mais letais para quem decide lutar por direitos territoriais e étnicos. Todavia, assim como na plantation colonial e na economia política clássica, a governamentalidade bioeconômica vigente se ancora em necrosaberes nascidos do jogo entre estruturas políticas e modalidades de conhecimento. Do ponto de vista empírico, analiso o regime de veridição da bioeconomia do dendê e seus reflexos em terras tradicionalmente ocupadas por quilombolas, ribeirinhos e pequenos agricultores. A questão central a ser respondida consistiu em verificar como a construção social de representações da governamentalidade bioeconômica do dendê erigiu um necrosaber instituído como regime de veridição? A partir desta pergunta norteadora, emergiu um questionamento complementar acerca do fenômeno social a ser investigado: quem são, como operam e de que maneira os agentes responsáveis pela formulação de estratégias de legitimação da plantation do dendê colaboram com o estabelecimento de zonas de não-ser nos territórios intrusados por monocultivos comerciais na Colômbia e no Brasil, culminando na distribuição desigual das oportunidades de vida e de morte? O objetivo geral de pesquisa consiste em analisar o modo como os processos de construção social de representações da governamentalidade bioeconômica do dendê erigem um necrosaber instituído como regime de veridição, que culminam em práticas traduzidas em situações concretas incidentes sobre territórios etnicamente configurados. Os aportes teóricos utilizados para proceder a análise das situações empiricamente observadas se baseiam na biopolítica e na governamentalidade propostas por Michel Foucault, nas críticas sociogênicas de Franz Fanon a respeito das violências físicas e psíquicas causadas pelo racismo intrínseco à plantation e a colônia; e na noção de necropolítica formulada por Achille Mbembe. A concretização da pesquisa foi possibilitada mediante a realização de um conjunto de entrevistas e etnografias realizadas nos últimos dois anos no Brasil e na Colômbia, junto a agentes sociais, representantes de governos, agroempresários e pesquisadores. Somou-se a isso o cotejamento de documentos, discursos, planos, programas e projetos concernentes à bioeconomia do dendê. O necrosaber constitui um neologismo, uma expressão nova decorrente de certa insuficiência teórica empregada com o intuito de descrever um campo de relações presente em domínios do saber conformadores da divisão do trabalho intelectual, que se propõem a produzir esquemas interpretativos e representações sobre o mundo social. Do ponto de vista epistêmico, o necrosaber se inscreve como autopoiese, ou seja, produz a si próprio em razão de si mesmo, engendrando relações e práticas constitutivas de sua associação indivisível com as distintas formas de manifestação do necropoder consumadas em fenômenos mórbidos específicos. A grade analítica do necrosaber possibilita trazer à tona os elementos fundantes da instituição do regime da grande plantação, atualmente eufemizado como agricultura comoditizada e integrada a mercados, em política da verdade. A despeito de se referirem a diferentes contingências históricas, a plantation colonial e as novas plantations guardam vários elementos em comum, dentre estes, a fantasmagórica autoimagem de sinonímia da modernidade e da eficiência, coextensiva a nomeação das vozes insubmissas como representação do arcaico, consoante uma efusão narcísica que corresponde ao verbo ferir (MBEMBE, 2018). Do mesmo modo se invoca certa ideia de razão outrora balizada em domínios do saber funcionais aos imperativos da economia política clássica e hodiernamente imbricada na noção de bioeconomia. Os fundamentos que conferem autoridade ao necrosaber se estruturam a partir de dispositivos raciais adstritos a práticas etnocêntricas de colonização de territórios e corpos considerados objetificáveis, fungíveis, descartáveis, reificados por meio da organização racional de uma desumanização (FANON, 2008). Invocando a gestão racional e eficiente do uso dos recursos naturais em oposição ao tradicional, norteiam a delimitação de espaços classificando-os como economicamente estagnados, socialmente empobrecidos e ambientalmente degradados, cuja transformação estaria condicionada à consecução de estratégias empresariais coadunadas com políticas governamentais desenvolvimentistas. Operam mediante a institucionalização de normas afinadas à racionalidade neoliberal vigente, associadas a processos de subjetivação enformadores dos desejos e das condutas, e do estabelecimento de um monopólio epistêmico convertido em política da verdade. Os efeitos do regime veridicional do necrosaber se materializam em necroses, as quais correspondem a manifestações empíricas do exercício da morte em zonas de não-ser engendradas pela governamentalidade bioeconômica da dendeicultura. Objetivados em monoculturas territoriais e cognitivas, os regimes de representação, discursos e práticas subjacentes a esta bioeconomia se traduzem na exposição à morte de grupos sociais em posição conflitante aos necronegócios.

Agência de Fomento

browse.metadata.ispartofseries

item.page.isbn

Fonte

1 CD-ROM

item.page.dc.location.country

Citação

SILVA, Elielson Pereira da. Necrosaber e regimes de veridição: governamentalidade bioeconômica da plantation do dendê no Brasil e na Colômbia. Orientadora: Rosa Elizabeth Acevedo Marin. 2020. 379 f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido) - Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Belém, 2020. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br:8080/jspui/handle/2011/13997. Acesso em:.