Programa de Pós-Graduação em Antropologia - PPGA/IFCH
URI Permanente desta comunidadehttps://repositorio.ufpa.br/handle/2011/4031
O Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) é um programa do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e teve início das suas atividades, em agosto de 2010. O PPGA contempla a formação de cientistas antropólogos em nível de Mestrado e Doutorado.
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Navegando Programa de Pós-Graduação em Antropologia - PPGA/IFCH por Área de Concentração "ANTROPOLOGIA SOCIAL"
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Tese Acesso aberto (Open Access) Agrobiodiversidade Tentehar na Aldeia Olho D’Água, Maranhão: trajetórias, saberes e práticas(Universidade Federal do Pará, 2023-09-08) FELIX, Neusani Oliveira Ives; BARROS, Flávio Bezerra; http://lattes.cnpq.br/4706140805254262; https://orcid.org/0000-0002-6155-0511Nesta pesquisa abordei o tema da agrobiodiversidade entre os Tentehar da Aldeia Olho D’Água, TI Bacurizinho, estado do Maranhão. A agrobiodiversidade, no contexto desse estudo, é compreendida como a parte da biodiversidade que agrega variedades agrícolas e recursos genéticos, processos socioculturais, saberes associados às plantas, aos animais manejados e caçados para fins alimentares. Os caminhos metodológicos inseriram a observação participante, o controle de impressões, a memória coletiva, as narrativas orais, as entrevistas semiestruturadas e abertas, com 13 mulheres e 11 homens, o questionário e o caderno de campo. Essas estratégias foram fundamentais para a construção de uma etnografia atenta e alinhavada com base nas dimensões científicas, sociais e políticas para uma condução exitosa da pesquisa partindo de uma relação dialógica entre a pesquisadora e os interlocutores. Os agricultores reconhecem ou cultivam um imenso e rico conjunto de etnovariedades de plantas alimentícias de todo tipo. Nos quintais, além dos cultivares, se mantém a criação de animais, como porco, bode, galinha, angolista, pato, peru, codorna. Das matas se obtêm as caças tão importantes para a cultura alimentar dos Tentehar, dentre os quais, tatu, peba, veado catingueiro, veado mateiro, caititu, cutia, quati mundé, jacu, juriti, lambu, etc. A relação entre as práticas agrícolas, de roças e de quintais, as caças vindas das matas, e o conjunto da agrobiodiversidade se insere no debate sobre a soberania e segurança alimentar e nutricional e confere traços de singularidades na cultura alimentar Tentehar. A agrobiodiversidade se constitui o fio que entrelaça as relações do agricultor com o manejo das roças, dos quintais e com as caças, remetendo ao sentido de trajetórias, identidade e autenticidade, em que relações interespécies, regras, interdições e proibições são estabelecidas. Como guardiões da agrobiodiversidade, os agricultores Tentehar resistem com seus roçados, cultivando, multiplicando e trocando sementes com parentes e vizinhos. Nos quintais realizam experimentações com animais e plantas, e produzem mudas de cultivares que circulam entre si, em um sistema de conservação de recursos genéticos, in situ/on farm. Na prática da caça estão presentes os saberes ancestrais, as táticas empregadas para a captura dos animais, as armas, as armadilhas, as situações de convívio interespécies permeadas pela ambivalência entre matar a caça para se alimentar e o medo da represália vinda dos piwáras. Portanto, os dados da pesquisa apontam que o lugar da agrobioversidade na vida Tentehar é o lugar da resiliência e resistência, que se relaciona fortemente com a reprodução material e simbólica das famílias, assim como guarda enorme significado na manutenção dos modos de vida Tentehar.Dissertação Acesso aberto (Open Access) “Antes tinha peixe e não tinha essas coisas, agora tem essas coisas e não tem peixe”: considerações sobre a atividade pesqueira artesanal na Vila dos Pescadores, Bragança – Pará(Universidade Federal do Pará, 2022-09-30) SILVA, Adriana Batista Cecim da; ALENCAR, Edna Ferreira; http://lattes.cnpq.br/7555559649274791O presente estudo trata sobre a atividade pesqueira artesanal realizada na costa norte brasileira, por moradores da Vila dos Pescadores, situada na Reserva Extrativista Marinha (RESEX Mar) de Caeté-Taperaçú, no município de Bragança - Pará. A pesquisa tem como objetivo caracterizar esta atividade, identificando os tipos de pesca, as espécies alvo e os impactos que ameaçam a capacidade produtiva dos pescadores e pescadoras artesanais. Para isso, busquei identificar os principais fatores de mudança e as estratégias de continuidade da atividade, utilizando como metodologia a revisão da literatura e a pesquisa de campo com técnicas da etnografia a partir de entrevistas semiestruturadas com pescadores e pescadoras e agentes do setor público; coleta de dados secundários por meio de revisão bibliográfica e pesquisa documental, e o uso de registros fotográficos das atividades cotidianas da comunidade, do trabalho na pesca e rituais. Lúcia Helena Cunha (2013) menciona que conhecimento tradicional e modernidade estão em uma relação de complementaridade, onde ambos sofrem modificações e são ressignificados. Tal ressignificação também é apontada por Marshall Sahlins (1997). Assim, os resultados apontam que a modernização das tecnologias de pesca e a construção da Rodovia PA 458 se apresentam como os principais fatores de mudanças, estimulando a sobrepesca, que interfere, sobretudo nas pescarias realizadas no estuário e próximos a praia. Esse conjunto de fatores influencia na diminuição das safras, prejudica o uso de tecnologias tradicionais da pesca e afeta aspectos socioculturais do grupo, como a prática de partilhar o pescado no porto, denominada kial, realizada por pescadores ao retornarem da pesca – esse peixe, antes destinado somente à alimentação, agora é comercializado como alternativa de renda. As análises apontam que os impactos à pesca artesanal podem influenciar na circularidade de conhecimentos ecológicos essenciais à sustentabilidade dessa atividade quando os jovens se afastam da pesca e outras pessoas se voltam para práticas extrativas como estratégias de subsistência a fim de garantir a segurança alimentar das famílias. Algumas dessas ações permitem a continuidade e a ressignificação de conhecimentos tradicionais locais que orientam os modos de interação com o ambiente, mas outras podem afetar negativamente o ecossistema de manguezal e práticas socioculturais locais. Além disso, a criação da RESEX Marinha não impediu a sobrepesca, devido a fraca atuação do Estado na implementação de um sistema de gestão pesqueira eficiente que delimite as áreas de atuação da pesca artesanal/comercial e semi-industrial (por vezes operando de forma insustentável em áreas distantes da costa com rede apoitada e/ou de arrasto) e esteja em consonância com os interesses dos pescadores e pescadoras artesanais da comunidade, a partir de uma relação dialógica.Tese Acesso aberto (Open Access) Caminhos de gênero nas feras de Bissau: resiliência e desafios de mulheres guineenses em contextos de vulnerabilidade diante dos impactos sociais e econômicos da COVID-19(Universidade Federal do Pará, 2024-04-24) GOMES, Peti Mama; BELTRÃO, Jane Felipe; http://lattes.cnpq.br/6647582671406048; https://orcid.org/0000-0003-2113-043XNa Guiné-Bissau, as feras - palavra do Crioulo para “feiras” - exercem um significativo papel na vida econômica, social e cultural do país. São locais de intensas atividades de compra e venda de mercadorias, e também englobam questões de emancipação feminina, pontos de encontro e reencontros, narrativas históricas, vivências e experiências compartilhadas. Sendo assim, configuram-se como espaços públicos plurais e privilegiados desde um ponto de vista etnográfico, onde uma série de relações socioculturais complexas se desenvolvem. Nesse contexto, a presente tese tem como objetivo compreender, por meio de uma perspectiva antropológica-feminina, a dinâmica socioeconômica de mulheres guineenses, que ora como bideras (vendedoras de feira oficiais), fassiduris di bida (mulheres que fazem a vida vendendo), ora como sumiaduris (vendedoras que têm hortas) e bindiduris (vendedoras no geral), estão em movimento com mercadorias desempenhando papéis ativos nas três principais feras locais: Bande, Caracol e Bairro Militar, todas na cidade de Bissau, capital da Guiné-Bissau, antes, durante e após a pandemia. O estudo é resultado de uma pesquisa de natureza etnográfica, cujo processo metodológico combinou pesquisa etnográfica online e trabalho de campo presencial. Para isso, utilizaram-se narrativas orais provenientes de plataformas digitais, como redes sociais, através de mensagens e áudios compartilhados com mindjeris di fera (mulheres de feira). Durante o período de pesquisa, os principais métodos de trabalho etnográfico incluíram conversas informais, transcrição e análise posterior dos dados. Essas últimas etapas ocorreram na cidade de Bissau, com o foco nas bideras e fassiduris di bida. A análise centrou-se na problematização das relações de gênero e trabalho e como elas foram afetadas pela pandemia. Os resultados indicam que as minhas interlocutoras de pesquisa são responsáveis pela organização de uma grande parte da subsistência material e simbólica no país, coisa que foi evidenciada e acentuada durante a emergência da pandemia de COVID-19.Dissertação Acesso aberto (Open Access) Cultura, oralidade e língua Mẽbêngôkre sob o prisma de seus mitos(Universidade Federal do Pará, 2020-03-16) FERREIRA, Dilma Costa; CAMARGO, Nayara da Silva; http://lattes.cnpq.br/4768996737873916A presente pesquisa buscou evidenciar nos mitos Mẽbêngôkre, o entrelaçamento entre cultura, língua e oralidade, evocando temas como memória, literatura oral e história, através de investigação bibliográfica e aproximação do campo realizada em algumas aldeias Mẽbêngôkre no Sul do Pará, especificamente no município de São Félix do Xingu. Observou-se que os mitos evidenciam, dentre outros, aspectos históricos e culturais, ao apresentar os modos de vida dos ancestrais e seus feitos, que propiciaram a formação cultural dos Mẽbêngôkre, refletidas na atualidade. O objetivo dessa pesquisa foi, através de levantamento bibliográfico, e observação participante, com coleta de dados em campo, dialogar com os dados existentes sobre mitos Mẽbêngôkre, a fim de compreender o lugar do mito para esse povo. Para os fins que se propõe o presente trabalho, comparou-se quatro versões de um mito Mẽbêngôkre, no intuito de proporcionar melhor compreensão do entrelaçamento entre mito, história e cultura. Os interlocutores desse estudo foram oito pessoas Mẽbêngôkre, dentre eles, uma mulher. Sendo as versões do mitos aqui apresentadas, narradas por três destes interlocutores. A pesquisa se torna relevante por proporcionar conhecimentos sobre o lugar dos mitos entre os Mẽbêngôkre, refletindo sobre temas que os perpassam, como a formação cultural, a importância da oralidade e memória e, como mito e história se tocam entre os ameríndios. A presente pesquisa buscou refletir os modos de vida ameríndios, tendo por base os Mẽbêngôkre, de forma a incentivar o caráter subversivo frente as realidades indígenas, no sentido de contribuir significativamente com estes. A incursão em campo ocorreu por meio da realização de pesquisa, inicialmente de observação participante. Foram observados o cotidiano dos indígenas em suas relações, entre si e com o meio. O segundo momento consistiu em consolidação do campo e coleta de dados. O trabalho está estruturado em quatro capítulos e o embasamento teórico teve contribuição dos autores Louis-Jean Calvet (2002; 2011), Jack Goody (2012), Claude Lévi-Strauss (1991; 2018), Marshall Sahlins (1997), Viveiros de Castro (2017; 2018), Aryon Rodrigues (2000; 2001 e 2013) e outros.Dissertação Acesso aberto (Open Access) Da seringa à farinhada: produção e modo de vida na Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade, Vale do Juruá – Acre(Universidade Federal do Pará, 2023-11-27) SOUSA, Tatiane Silva; O’DWYER, Eliane Cantarino; http://lattes.cnpq.br/7254906067108841; https://orcid.org/0000-0003-0523-188XEste trabalho tem como objetivo observar a dinâmica das redes de relações sociais de modo a verificar como pessoas e grupos constroem estratégias para assegurar a reprodução de suas práticas sociais, culturais e econômicas em comunidades da Reserva Extrativista (RESEX) Riozinho da Liberdade, Alto Juruá, Acre. Para tal, utilizo o conceito de redes sociais como estratégia de método e técnicas como observação participante nas comunidades Morro da Pedra e Periquito, fotografias, entrevistas, genealogias, assim como mantive um caderno de campo. Abordo inicialmente os meandros históricos e sociais que culminaram na formação dos seringais do Vale do Juruá, Acre, a partir de um breve apanhado histórico de eventos que vão desde o primeiro ciclo da borracha com a implantação da empresa seringalista (1870-1912), até a sua derrocada, quando ocorreu fim das políticas protecionistas da borracha e o avanço da fronteira na Amazônia Acreana no final do século XX, momento em que os interesses políticos e econômicos do Estado Brasileiro para com a Amazônia mudam, o qual passou a incentivar sua colonização e financiar projetos de infraestrutura que vieram a ameaçar o modo de vida dos povos de comunidades tradicionais, situação que leva a uma série de conflitos locais no Acre. Surge neste momento como forma de resistência, o movimento social dos seringueiros, o qual estava organizado e representado inicialmente pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR). São fundadas delegacias sindicais nos seringais, o Conselho Nacional de Seringueiros (CNS) e associações locais, o que veio a potencializar a luta. O movimento social dos seringueiros estabeleceu alianças com os povos indígenas, movimento ambientalista, organismos internacionais e outras instituições, pressionando o Estado brasileiro pelo reconhecimento dos seus direitos sociais, territoriais, pelo fim do sistema de barracões e criação das RESEX’s. Na RESEX Riozinho da Liberdade, criada em 2005 após mais uma década de luta, o fim da atividade extrativa como principal fonte de renda trouxe consigo um período de mudanças. Os seringueiros passam a se dedicar a agricultura e principalmente a produção de farinha de mandioca. As famílias migram das colocações do interior da floresta e se aglomeram nas margens do Riozinho da Liberdade, onde instituições públicas começam a atuar a partir da década de 1990, influenciando a formação das comunidades que existem hoje em dia as margens do rio. Observa-se que entre o período de colocações para agora de comunidades, há continuidades estruturais na forma como os grupos domésticos constroem suas relações de troca e parentesco. Ainda, relações de aviamento persistem, mas já não ocorre a imobilização da mão de obra como havia anteriormente nos seringais. A criação da RESEX assegurou direitos territoriais, mas não novas fontes de renda baseadas no extrativismo, o que vem sendo trabalhado por novas associações, ainda que de forma incipiente. As redes locais fundamentadas no parentesco, reciprocidade, aviamento e ajuda são importantes para que se garanta a produção, comercialização, alimentação e assistência em momentos de dificuldade. Garantindo desta forma segurança, estabilidade social e econômica aos grupos domésticos.Tese Acesso aberto (Open Access) De colonialismos e memórias sitiadas: história, antropofagia e tecnologia bélica nas guerras guianenses(Universidade Federal do Pará, 2023-05-09) BATISTA, Ramiro Esdras Carneiro; BELTRÃO, Jane Felipe; http://lattes.cnpq.br/6647582671406048; https://orcid.org/0000-0003-2113-043XEste estudo constitui-se no exercício de documentação, tradução e interpretação das narrativas de guerra de quatro povos habitantes do Baixo rio Oiapoque. Por meio de métodos etnográficos, mnemônicos e narrativos o texto discorre sobre o tema da colonização que sulca a história da invasão de um Caribe periférico, situado à região do Oiapoque. Considerando que a produção de uma história Afro e Indígena apresenta-se, em muitos casos, como uma história de impossibilidades, dada a dificuldade teórica e metodológica das Ciências Sociais em lidar com um passado caracterizado pela ausência de registros escritos, pressupõe-se que as possibilidades de produção da História Étnica, narrada nos próprios termos, estão diretamente relacionadas ao conhecimento e tradução da memória originária. Na produção acadêmica é comum o exercício de reinterpretação e/ou correção da memória coletiva a partir da produção historiográfica, mas os dados desta pesquisa propõe uma pergunta invertida: as memórias afro e indígenas podem auxiliar na correção e/ou complementação dos cânones historiográficos? Perseguindo a questão, este estudo procura identificar e traduzir aspectos constantes das memórias de pessoas etnicamente diferenciadas marcadas pelo advento da Colônia, em que guerra, exercício de alteridade, aliança Inter étnica e violação/recomposição de direitos territoriais parecem fazer parte de uma mesma dinâmica. A tradução das narrativas de guerra desses quatro povos converge no sentido de propor a invasão colonial como um dos marcos fundantes da historicidade afro e indígena. Neste sentido, constata que a colonização perpetrada por diferentes povos e agências europeias à região das guianas – colonialismos que prevalecem de distintas maneiras no presente – constitui-se como o fio enredador que permite não só recompor, como entrecruzar as Memórias e Histórias recentes e remotas dos povos e narradores alcançados, desvelando, finalmente, como cada grupo étnico representa e compreende as hierarquias, alianças e dissonâncias constantes do mundo neocolonial.Dissertação Acesso aberto (Open Access) Educação escolar indígena no Oiapoque/AP: práticas pedagógicas em escola do povo Karipuna(Universidade Federal do Pará, 2025-02-24) SANTOS, Karina dos; SANTOS , Júlia Otero dos; http://lattes.cnpq.br/8964630349505642O referido estudo apresenta uma abordagem sobre as políticas e práticas da educação escolar do povo Karipuna nos territórios indígenas situados no município de Oiapoque-AP. A ênfase é evidenciar o protagonismo do povo indígena Karipuna no processo de organização de políticas e projetos educacionais, desde a escola como meio de dominação e assimilação até a escola como lugar de fortalecimento cultural e parte do sistema educativo e projeto de vida do povo dentro e fora do território. Apresento uma breve contextualização do histórico da introdução da educação escolar entre os Karipuna, as lutas e articulações coletivos por novos significados e mudanças da escola para a vida do povo, com destaque para as principais reivindicações, dificuldades e contradições em praticar o que é garantido na legislação específica da educação escolar indígena. A escola, inicialmente um instrumento de colonização e de apagamento das culturas ancestrais, atualmente é um meio que proporciona também a afirmação valorização dos diversos aspectos culturais e linguísticos do povo. Um dos objetivos foi investigar as políticas, ações e modelos escolarizados que estão sendo desenvolvidos na prática na escola indígena. Investiguei algumas práticas pedagógicas de professores karipunas, observando como se dá o diálogo entre os saberes e fazeres indígenas com práticas escolarizadas bem como os processos diferenciados e interculturais na perspectiva de construção de currículos pedagógicos a partir da realidade, experiências, vivências da comunidade.Dissertação Acesso aberto (Open Access) Keka Imawri: narrativas e códigos de Guerra entre os Palikur-Arukwayene(Universidade Federal do Pará, 2019-03-15) BATISTA, Ramiro Esdras Carneiro; BELTRÃO, Jane Felipe; http://lattes.cnpq.br/6647582671406048; https://orcid.org/0000-0003-2113-043XA dissertação é um estudo histórico-antropológico sobre a Keka entre o povo PalikurArukwayene do rio Urukauá que demonstra a constituição da pessoa autônoma entre os povos que compõem o mosaico interétnico na fronteira do Oiapoque a partir de evento considerado belicoso, ao tempo em que busca trazer a lume a versão indígena relativa ao histórico de ocupação da região guianense que se constituiu ao longo de séculos como a Amazônia caribenha. Não obstante a Keka ser traduzida como Guerra por distintos interlocutores indígenas, o cotidiano etnográfico demonstra que a mesma encontra melhor tradução em português como festa ou competição guerreira, abordando princípios e motivações para a belicosidade indígena ritual que precedem a invasão europeia e prevalecem de distintas maneiras, ao arrepio da atuação e dos impactos causados pelo indigenismo dos estados nacionais limítrofes.Tese Acesso aberto (Open Access) Peixe frito, Santos e Batuques: Bruno de Menezes em experiências etnográficas(Universidade Federal do Pará, 2018-04-06) WANZELER, Rodrigo de Souza; PACHECO, Agenor Sarraf; http://lattes.cnpq.br/5839293025434267Nesta tese empreendo um estudo que intenta, primordialmente, apresentar uma outra chave de leitura para a produção intelectual de Bruno de Menezes (1893-1963), o qual obteve destaque no cenário cultural amazônico como um grande literato. Assim, procuro reconstituir importantes aspectos de sua trajetória de vida, destaco representações do cotidiano da cidade de Belém advindas de suas experiências sociopolíticas e focalizo a diversidade e a pluralidade de vozes, provenientes da interculturalidade latente na Belém da primeira metade do século XX. Neste exercício, exploro o viés etnográfico em algumas de suas principais composições, linha interpretativa escolhida para ressignificar os estudos sobre o literato negro. Para alcançar o objetivo central da investigação, em outras palavras, a tese que costura o trabalho, algumas questões fizeram-se norte: Que experiências etnográficas conformam as trajetórias de vida de Bruno de Menezes? Como o intelectual percebia a si e aos outros em suas escrituras? Em que condições e circuitos o literato realizou pesquisas e produziu escritos sobre a dinâmica cultural em cenários paraenses da Amazônia? Por fim, qual a importância de Bruno enquanto um pensador social para o contexto amazônico na primeira metade do século XX? A formulação e compreensão destas questões estão ancoradas no cruzamento teórico-metodológico de um saber-fazer etnográfico que se alinhava nas conexões da Antropologia com a Literatura e o Folclore, os Estudos Culturais, Pós-Coloniais e a História Oral e se verticaliza num campo em que obras literárias, pesquisas de cunho folclórico, fotografias e relatos orais reconstituem evidências de e sobre o escritor em tela. Frente ao exposto, divido o texto acadêmico em duas partes: na primeira, trato dos vários percursos traçados por Bruno ao longo de sua existência e enfatizo as redes estabelecidas, as quais contribuíram para a formação de seu fazer-se e repertório crítico. Na segunda parte, abordo três produções de Bruno de Menezes – Boi Bumba: auto popular; São Benedito da Praia: Folclore do Ver-o-Peso e Batuque. A intenção é reconstituir e analisar a experiência etnográfica dessas composições literárias e ousar incluir o negro jurunense no rol dos grandes pensadores acerca da cultura na Amazônia, indo, dessa forma, para além do aspecto literário, faceta pela qual Bruno é deveras reconhecido. Assim, penso que a partir de todo cabedal epistemológico no qual a tese se ampara, outro Bruno de Menezes é descortinado, o esteta da palavra é também um etnógrafo da Amazônia paraense.Dissertação Acesso aberto (Open Access) Pelos caminhos da cidade: experiência e percepção de paisagens em videoclipes na Amazônia contemporânea(Universidade Federal do Pará, 2019-03-22) COSTA, Victória Ester Tavares da; GONTIJO, Fabiano de Souza; http://lattes.cnpq.br/7539767705260462A Amazônia tem um histórico de imagetizações estrangeiras diversas, o que a estigmatizou em referências de simplificação e exotismo. Aqui, procuro percorrer outras paisagens desta região, aquelas cuja construção imagética perpassa pelas vivências e interações cotidianas que nela ocorrem. O espaço citadino vem a ser essa imagem pouco explorada de uma área conhecida por sua fauna e flora. Expressões artísticas, por sua vez, são uma forma de demonstrar as percepções e vivências dos espaços, o videoclipe faz isto através da visualidade e da sonoridade, conferindo mais elementos que tornam possível também (re)criar imaginários. A partir das particularidades deste gênero audiovisual e o recorte de seis videoclipes filmados em ruas da cidade de Belém do Pará, cheguei a três grupos-base de interlocutores locais, com quem pude dialogar sobre o cotidiano, a experiência e as imagens destes espaços diante do que se cria e o que se mostra hoje sobre a cidade.Dissertação Acesso aberto (Open Access) O “pensamento concentrado”: concepções sobre saúde mental e bem viver na pajelança do povo Tembé/Tenetehar(Universidade Federal do Pará, 2024-03-11) MOREIRA JÚNIOR, Carlos Sérgio de Brito; MATOS, Beatriz de Almeida; http://lattes.cnpq.br/5130782589745088Nesta dissertação propõe-se uma análise do que entendemos por saúde mental a partir da percepção do próprio povo Tembé/Tenetehar, assim como suas imbricações e formas de tratamento destes quadros levadas a cabo pela pajelança e seus muitos especialistas. Para tal, será realizado um levantamento bibliográfico acerca das diversas formas que a saúde mental pode assumir entre os povos indígenas, como suas imbricações com a cosmologia, sonhos e xamanismo, para permitir a comparação com a realidade do povo Tembé/Tenetehar e suas demandas. Ao tentarmos traduzir nosso entendimento do que seria saúde mental para a realidade ameríndia, encontramos diversas barreiras, com diversas tentativas resultando em situações onde as formas do pensamento ocidental se sobrepuseram às formas indígenas de refletir sobre o fenômeno. As sociedades ameríndias percebem o que entendemos por saúde mental a partir de suas próprias ontologias, cosmologias e formas de pensamento. Assim, espera-se contribuir para o conhecimento em saúde mental entre o povo Tembé/Tenetehar e suas demandas de forma que suas reflexões sejam respeitadas e levadas em consideração na análise, abordando as questões relacionadas ao tema sob uma perspectiva antropológica e tentando construir pontes entre as formas indígenas e as concepções médicas ocidentais.Dissertação Acesso aberto (Open Access) Piucquid nibëdec: el dinero entre los Matsés de Buenas Lomas Antigua, Amazonía peruana(Universidade Federal do Pará, 2025-01-29) DËSI, Roldán Dunú Tumi; MATOS, Beatriz de Almeida; http://lattes.cnpq.br/5130782589745088O presente estudo baseia-se em um trabalho de campo etnográfico inspirado no que o antropólogo Tukano João Rezende e Ana Damásio chamam de “etnografia em casa”. Foi realizado entre os meses de fevereiro a maio de 2024 no anexo Buenas Lomas Antigua do povo Matses, no Peru, ao qual pertenço. O objetivo geral é compreender o entorno social e os múltiplos significados por trás da expressão matses: piucquid nibëdec/ “não há dinheiro”. Minha intenção é analisar como o povo Matses entende e utiliza o dinheiro a partir das suas próprias perspectivas e experiências, começando pela introdução do dinheiro entre os Matses após o contato em 1969 com as missionárias do Instituto Linguístico de Verão até as formas atuais em que o dinheiro, e a falta de dinheiro, através de mercadorias e programas sociais, impactam a vida de mulheres e homens de diferentes gerações.Tese Acesso aberto (Open Access) "Póngase las plumas" - A decolonialidade no sistema das artes visuais contemporâneas pelas perspectivas de gênero e corpos dissidentes: complexidades e contradições entre Brasil, Colômbia e Peru(Universidade Federal do Pará, 2024-08-30) VIVIANI, Maria Cristina Simões; GONTIJO, Fabiano de Souza; http://lattes.cnpq.br/7539767705260462O conceito de decolonialidade tem sido agenciado com frequência pelo sistema das artes visuais contemporâneas. O termo proposto pelo Grupo Modernidade/Colonialidade é utilizado principalmente para apontar curadorias com a presença de artistas dissidentes - indígenas, negras, queer e periféricas. Contudo, o campo realizado entre Brasil, Colômbia e Peru indicou que a “decolonialidade” foi apropriada pelo campo das artes, tornando-se um termo nativo das instituições do circuito artístico. A capitalização do conceito pelo mercado das artes resultou em uma abordagem exclusivamente a partir das identidades que apenas se refere à presença de produções de artistas não hegemônicas, sem as devidas transformações que a decolonialidade deveria acarretar a nível estrutural. Sendo assim, agentes das artes acusam de terem suas identidades, antes marginalizadas, agora instrumentalizadas pelo sistema das artes. Diante de tal problemática, a pesquisa investigou o circuito das artes dos três países a partir de entrevistas com artistas, curadoras e galeristas mulheres (cis e transgênero), não bináries e homens transgênero. Considerando o sistema das artes uma estrutura porosa, formado por uma rede de relações de poder entre agentes, instituições e obras de arte, buscou-se evidenciar as complexidades e contradições inerentes a tal campo pela perspectiva de gênero e corpos dissidentes. A conexão territorial, demarcada pela tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, marca também a perspectiva hegemônica do Norte Global sobre suas produções artísticas. Dinâmicas de hierarquizações de poder se repetem em um modelo colonial replicado nas instituições de artes dos três países. Os conflitos e disputas de quem decide o que é arte, quem vende arte e quem consome arte, revelam que a perspectiva decolonial está mais voltada ao discurso do que à prática no circuito artístico. O avanço da decolonialidade propiciada pela pressão social por aumento da representatividade de grupos minoritários em espaços de poder, juntamente com produção acadêmica de alto impacto sobre decolonialidade e a demanda mercadológica, gerou a busca pelas identidades dissidentes que vive hoje o sistema das artes do Sul Global. As limitações sobre as produções das artistas demarcadas pela alteridade a partir da perspectiva hegemônica expõem a necessidade de novas estratégias para, de fato, decolonizar o sistema artístico. A essencialização das identidades e a leitura reducionista como esses corpos e produções são absorvidos pelo sistema das artes indicam que há uma percepção simplista sobre vivências complexas. O questionamento e a resistência das agentes das artes apontam para a necessidade de uma reparação histórica em que as produções sejam localizadas e o sujeito “universal” seja contestado. Assim, as produções dessas agentes determinam por uma descentralização da rigidez imposta sobre as identidades dissidentes, permitindo um esgarçamento do imaginário sobre seus corpos e experiências.Tese Acesso aberto (Open Access) Pontos de memória: de Política Cultural a Museus em periferias.(Universidade Federal do Pará, 2021-11-05) ALCÂNTARA, Camila de Fátima Simão de Moura; GODOY, Renata de; http://lattes.cnpq.br/5173744417832044; https://orcid.org/0000-0002-8138-8670A seguinte tese apresenta uma pesquisa etnografica sobre as iniciativas comunitarias de Pontos de Memoria que participaram de um processo democratico para a construcao de uma politica publica cultural no Brasil, pautada na museologia social. O objetivo deste estudo e compreender os (re)arranjos politicos e sociais que as doze iniciativas autodenominadas de “pioneiras” fazem para manter seus processos museais nas periferias brasileiras. Territorios marcados pela privacao e abandono de politicas publicas efetivas, onde ha proliferacao de todo tipo de violencia com o lugar e com a sua gente. As reflexoes sobre o objeto da pesquisa deram-se por meio da Antropologia dos Museus que forneceu uma interpretacao dos processos museais em contato com a percepcao das representatividades dos Pontos de Memoria pioneiros sobre as suas realidades nos seus lugares de existencia. Organizada em cinco capitulos, a tese traz uma discussao sobre museus em processos que se servem das realidades e solucoes criativas nos espacos urbanos perifericos para registrar a memoria social e salvaguardar o patrimonio cultural dos diversos grupos sociais que vivem nesses territorios. Apresentando as principais diretrizes de politicas publicas voltadas para museus que incentivaram esses grupos a criarem os seus processos museais. As iniciativas dos pontos pioneiros sao revisitadas a partir de uma visao privilegiada do Ponto de Memoria da Terra Firme, em Belem do Para, em que considerou os movimentos em comunidade para defender o desenvolvimento territorial, social, cultural e politico das comunidades que representam. Nesta pesquisa etnografica compreendo que os Pontos de Memoria pioneiros sao museus em processos formados por sujeitos diversos que se enriquecem como comunidades, ao desenvolverem pensamento critico sobre suas realidades e organizarem acoes coletivas transformadoras nas cidades onde acontecem, a partir das forcas ativas da memoria. Esses processos museais ganham vida no interior das comunidades as fortalecendo como sujeitos que criam, recriam e decidem sobre suas realidades.Tese Acesso aberto (Open Access) Povos Indígenas na cidade de Boa Vista: estratégias identitárias e demandas políticas em contexto urbano(Universidade Federal do Pará, 2018-09-06) MELO, Luciana Marinho de; ALENCAR, Edna Ferreira; http://lattes.cnpq.br/7555559649274791Nesta pesquisa trato das estratégias de luta pelo reconhecimento étnico dos povos indígenas residentes no contexto urbano de Boa Vista, Roraima. Esta luta é decorrente da recusa do Estado em reconhecer os seus pertencimentos étnicos, impedindo-os de ter acesso às políticas indigenistas. Tal situação motivou a criação de três organizações presididas por lideranças Macuxi e Wapichana, sendo elas a Organização dos Indígenas da Cidade, Associação Indígena Kapói e Kuaikrî Associação Indígena as quais apresentam diferentes estratégias como forma de pressionar o Estado pelo reconhecimento do pertencimento étnico. A intenção desta pesquisa foi tomar os Macuxi e Wapichana como sujeitos de estudo para, a partir deles, identificar como os povos indígenas que residem na cidade de Boa Vista elaboram estratégias para a participação nos direitos constitucionais direcionados aos povos originários. Dentre essas estratégias destaco as ações coletivas desenvolvidas por meio do movimento indígena. Por estratégias me refiro aos recursos discursivos e simbólicos acionados na construção de pautas reivindicatórias que são elaboradas no âmbito das organizações e associações. A primeira hipótese que proponho para discutir acerca do problema de pesquisa é que os critérios adotados pelos agentes do Estado e direcionados aos indígenas em contexto urbano se tornam mais restritivos e excludentes na medida em que estes são apropriados pelo movimento indígena em Boa Vista. A segunda hipótese é que a recusa em reconhecer o pertencimento étnico por parte do Estado expressa uma política estrategicamente elaborada. Para responder a estas questões foi realizada pesquisa etnográfica que elegeu como locus de observação as reuniões e assembleias promovidas pelas organizações e associações, possibilitando a coleta de dados sobre processos de construção política das identidades étnicas, a apropriação da cidade como lugar de ancestralidades, lutas, resistências, negociações e diálogos conduzidos por lideranças Macuxi e Wapichana. Os resultados da pesquisa demonstram que a relação das organizações com o Estado é marcada por negociações e conflitos, tendo como consequência o fortalecimento do movimento indígena em contexto urbano e o surgimento de novas lideranças que intencionam não apenas a reversão da situação de invisibilidade étnica em uma cidade que possui aproximadamente 31.000 pessoas autodeclaradas indígenas, mas também a participação política partidária. Neste estudo, as teorias sobre Etnicidade e Identidade Étnica foram privilegiadas de modo a refletir sobre as relações políticas entre diferentes grupos, bem como os estudos que consideram a objetificação cultural.Dissertação Acesso aberto (Open Access) Reflexões sobre construção de fronteiras sociais e étnicas: levantamentos etnográficos e estudos de caso no contexto regional do Baixo Amazonas, Santarém-PA(Universidade Federal do Pará, 2020-08-05) DEL ARCO, Diego Pérez Ojeda; O’Dwyer, Eliane Cantarino; http://lattes.cnpq.br/7254906067108841; https://orcid.org/0000-0003-0523-188XConsiderando os distintos processos identitários étnicos protagonizados por grupos sociais que orientam as suas ações em prol do autorreconhecimento enquanto comunidades remanescentes de quilombos na região do Baixo Amazonas, o objetivo geral deste trabalho é analisar aprodução e reprodução da etnicidade partindo do entendimento de que ela não decorre de descontinuidades culturais empiricamente observáveis. Cientes de sua variação, destacamos as complexas relações existentes entre etnicidade e cultura por meio de uma etnografia dos processos políticos de reconhecimento territorial como quilombo feita com base na análise situacional realizada na comunidade quilombola de Surubiu-Açú, cuja associação comunitária foi a última em passar a compor a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), e na comunidade quilombola de Saracura, uma das primeiras comunidades em passar a se autorreconhecer como quilombola no município de Santarém, Pará. Assim, levando em conta diferentes escalas de análise, daremos ênfase aos contextos de interação onde a identidade étnica é manifestada, seja na interação social com outras comunidades vizinhas ou com o próprio Estado, na reivindicação de direitos étnicos e territoriais. Com isso, as similitudes presentes nos modos de fazer, criar e viver observadas entre as comunidades quilombolas e “ribeirinhas”, serão comparadas contrastivamente aos diferentes processos de distintividade cultural. É justamente por meio desses processos que sinais diacríticos são eleitos e se tornam relevantes tanto na interação intercomunitária, quanto na configuração de identidades étnicas e políticas.Tese Acesso aberto (Open Access) Resistências malungas: agências sociopolíticas de mulheres quilombolas em Salvaterra, Arquipélago do Marajó - Pará(Universidade Federal do Pará, 2022-12-16) SOUSA, Maria Páscoa Sarmento de; MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo; http://lattes.cnpq.br/0087693866786684; https://orcid.org/0000-0002-7509-3884Novas etnias são uma realidade no Marajó contemporâneo, revelando-se com particular ênfase nas primeiras décadas do século XXI, quando grupos humanos majoritariamente formados por pessoas negras passaram a reivindicar a identidade etnopolítica quilombola neste lugar. Neste trabalho sustentamos a premissa que os aquilombamentos deste século estão imbricados em agências femininas, pois fomos e somos as principais articuladoras de ações no âmbito do movimento quilombola nesta região, desde 1998. Aqui, esforço-me para compreender, através da afrocentricidade e desde a perspectiva antropológica feminista (feminismo afrodiaspórico), as agências sociopolíticas das mulheres em processos de aquilombamentos contemporâneos no município de Salvaterra, na tentativa de localizar o lugar do feminino no campo do político em sociedades étnicas contemporâneas, espaços onde a identidade é um fenômeno eminentemente político e corporificado (corpo-político) e onde as pessoas se apercebem como sujeitas de direitos a partir de confrontações com o Estado, com outras instituições e outros indivíduos. Deste modo, introduzo questões centrais como o deslocamento do ser individualizado para o ser coletivo, próprio à existência e experiência política através de um exercício de escrevivência autoetnográfica que é reflexo de experiências pessoais e coletivas com 21 outras mulheres, co-autoras e agentes da pesquisa, no interior de um movimento étnico situado em um sistema de dominação cujos fundamentos são o racismo, o patriarcado, o machismo, o heterossexismo e o capitalismo. Esta pesquisa filia-se aos Estudos Negros, Estudos Africana ou Africalogia enquanto campo científico que tem por base teórica a Afrocentricidade ou Paradigma Afrocêntrico, um amplo campo de estudos construído pelo trabalho de diversa(o)s intelectuais africanas e africanos situada(o)s em variadas latitudes no globo terrestre e em tempos diversos, desde a África, passando pelas Américas, Caribe até a Europa. Constitui-se como o lugar de enunciação de uma nova maneira de pensar a África e os/as africanos/as no continente e seus descendentes na Diáspora Negra Transatlântica, recentralizando-os/as enquanto agentes da/na História. Esta pesquisa, também, filia-se à teoria crítica feminista e orienta-se desde as proposições teórico-práticas do Feminismo Afrodiaspórico, gestado nos diversos lugares onde mulheres negras e não-brancas situam-se em projetos de subjetivações, insurgências e enunciações frente a sistemas de opressão que interseccionam nossas existências no mundo, com especial enfoque nas interrelações entre gênero, raça/etnia e classe social e localização, vistos não apenas como sistemas hierarquizados de opressão, mas como interseccionalidades que estruturam ‘lugares’ onde as mulheres negras são obrigadas a viver e permanecer. Estas escrevivências autoetnográficas exigiram mergulhar em minhas experiências pessoais enquanto mulher negra quilombola, enquanto quilombola amazônida, enquanto ativista do movimento negro e afrofeminista, mas também implicaram imersão em experiências coletivas compartilhadas com aquelas que são minhas outras manas e manos quilombolas, a fim de buscar compreender nossas agências sociais e políticas nos lugares de pertença. Concluo pela existência de uma agência malunga, significando com isso as maneiras diversas de ação articuladas por nós mulheres quilombolas ao longo de mais de 20 anos de movimento quilombola em Salvaterra, uma agência que é contra colonial, insurgente e desafiadora, mas que se realiza mediada pelos sentidos do Ubunto materializado em solidariedade, partilha, cooperação, enfim permeada por Amor.Tese Acesso aberto (Open Access) A “Senhora do reino encantado de Guimarães” e suas contemporâneas: Antropologia e Literatura na trajetória da escrita feminina negra na Amazônia do entresséculos XIX e XX(Universidade Federal do Pará, 2022-04-08) TRINDADE, Maria de Nazaré Barreto; ACEVEDO MARIN, Rosa Elizabeth; http://lattes.cnpq.br/0087693866786684; https://orcid.org/0000-0002-7509-3884A tese A “Senhora do Reino Encantado de Guimarães” e suas contemporâneas: Antropologia E Literatura na Trajetória da Escrita Feminina Negra na Amazônia do entresséculos XIX e XX pretende reconstruir etnograficamente a trajetória literária, social e política de vozes femininas e negras na literatura produzida no Brasil e, especialmente na Amazônia no entresséculos XIX e XX. Produzir uma teia de relações onde a multivocalidade, ou seja, as múltiplas vozes sejam evidenciadas e, essencialmente, as vozes silenciadas por uma sociedade que se construiu sobre o tripé do preconceito- racismo- discriminação social. Por meio do diálogo entre a antropologia e a literatura e usando a etnografia enquanto concepção teórico- metodológica que fundamenta uma espécie de “arqueologia” do conhecimento acerca das mulheres que escrevem e escreveram e cujos textos ficaram à sombra da historiografia literária. Penso que essas questões são relevantes nesse contexto de intensificação das discussões em torno da construção de novas relações de poder e da democratização do acesso aos bens culturais no Brasil. Assim, encaramos a literatura também como campo de poder, espaço construído histórica e socialmente, onde as publicações e o acesso foram controlados por homens, brancos e de classes sociais privilegiadas. A tese rastreia algumas dessas autoras, cujos nomes sofreram em determinados momentos apagamento dos registros oficiais, mas sua escrita permanece registrada seja em folhetins, em publicações avulsas, em periódicos, em livros já publicados. Levarei em conta suas subjetividades, o riscado de suas existências no mundo, ou como bem aponta Evaristo, suas escritas de vida- ou escrevivências, portanto são para mim sujeitas, das quais a tese compila e analisa um pouco da trajetória de vida e da produção literária. Algumas autoras e autores foram meus companheiros nessa incursão, entre eles, cito: Lélia Gonzalez, Conceição Evaristo, Ângela Davis, bell hooks, Michele Perrot, Regina Dalcastagnè, Vicente Salles, Abdias do Nascimento, José Veríssimo, Aimé Cesairé, Frantz Fanon, George Balandier, Goldman, Pierre Bourdieu, J. Clifford entre outros.
