De moços alegres a LGBTs: explorando memórias e história sobre os homens homossexuais na produção enunciativa dos jornais Folha do Norte e O Liberal (1901-2011) em Belém, Pará

O trabalho tem o objetivo de explorar os enunciados e as enunciações elaboradas pelos jornais Folha do Norte e O Liberal sobre os homossexuais em Belém, Pará, de 1901 a 2011 e, assim, perceber as memórias sobre esses sujeitos na cidade. O estudo é pertinente diante do momento atual, em que os mais variados sujeitos sociais buscam se autoafirmar como sujeitos de direitos. Devido ao longo período temporal, definimos na metodologia a coleta dos dados de dez em dez anos, nos meses de fevereiro e/ou março (Carnaval), agosto, setembro e/ou outubro (Festa da Chiquita Bacana e Paradas LGBTs de Belém), sempre observando sete edições da semana do mês dos eventos que, a partir do levantamento bibliográfico, mostraram-se com uma maior possibilidade de emergência a respeito de homossexuais. Para não deixar nenhuma década descoberta, nos anos sem ocorrência de textos sobre homossexuais, observamos o ano seguinte e, quando não havia, passamos ao próximo. Foram 18 anos observados, sete edições de cada evento, que somaram 147 edições. Desse total, coletamos 53 textos com menção explícita ou sugestiva sobre homossexuais, sendo 12 da Folha do Norte e 41 de O Liberal. Para auxiliar na contextualização da sociabilidade e história dos homossexuais em Belém, entrevistamos três homens gays com idades entre 50 e 70 anos, moradores de Belém desde 1960. Discutimos e apresentamos os dados a partir dos seguintes tópicos, que possibilitam a apresentação dos dados levantados e sua análise: a) De moços alegres a travestis; b) Homossexuais, gays e LGBT’s; c) Ênfase na enunciação; d) Homossexualidade e religião; e) Histórias carnavalescas; e f) O filme Giselle. Os dados observados nos tópicos evidenciam que os enunciados do início do século XX até meados da década de 1930 sobre os homossexuais foram constituídos em torno dos sentidos do bestial e do selvagem. Os sentidos de festa, alegria, carnaval estiveram presentes de forma constante ao longo da pesquisa, evidenciando que as memórias sobre a temática estavam ligadas aos enunciados moços alegres, veado e/ou travesti. A travesti foi uma imagem recorrente, utilizada pelos jornais como símbolo da homossexualidade masculina. Uma mudança na forma de enunciar foi percebida no final do século XX e início do XXI, quando os termos homossexual e LGBT emergiram, movimentando os sentidos em direção a ações políticas dos sujeitos.