Aprender ao olhar para si: diário para fomentar a Aprendizagem Socioemocional entre graduandos(as) de Medicina

Este trabalho aborda o processo de concepção e avaliação do Diário Aprender ao olhar para si, cujo objetivo é fomentar a aprendizagem socioemocional entre graduandos(as) de Medicina. Para isso, conduzimos uma pesquisa de natureza aplicada e abordagem qualitativa, baseada em uma postura metodológica fundamentada na perspectiva da complexidade (Morin, 2010), na noção de processos tentativos (Braga, 2010), e no reconhecimento da relação e dos entrelaçamentos entre nossas vivências, enquanto pesquisadoras e autoras, bem como as tomadas de decisões teórico-metodológicas adotadas (Martín-Barbero, 2004). A construção do produto educacional partiu de um contexto específico, a Faculdade de Medicina (FAMED) da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde realizamos entrevistas semiestruturadas com o vice-diretor e com preceptores egressos do curso. Esse movimento permitiu identificar aspectos e desafios comuns na vida dos estudantes, bem como as competências socioemocionais prioritárias para a formação desses futuros médicos(as). Para embasar teoricamente a pesquisa e a elaboração do diário, buscamos referenciais sobre o difuso conceito de competências socioemocionais, articulando dois frameworks: o LifeComp (Sala et al., 2020) e o Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning – CASEL (CASEL, 2013; 2020). Essa articulação resultou na definição de 13 competências socioemocionais que orientaram a criação do Diário Aprender ao olhar para si, composto por um conjunto de atividades reflexivas e autoavaliativas compiladas em dois cadernos impressos no formato A5. A proposta buscou incentivar e valorizar o contato dos estudantes com uma materialidade física e lúdica, favorecendo momentos de (auto)conexão. O diário foi testado e avaliado por sete discentes de diferentes períodos do curso de Medicina (UFPA) e de distintos perfis socioeconômicos, ao longo de aproximadamente 30 dias. Ao término desse período, realizamos entrevistas semiestruturadas individuais e presenciais, ocasião em que recolhemos os materiais preenchidos e ouvimos os relatos dos estudantes sobre seu uso. Os resultados apontam a pertinência do produto educacional por fomentar movimentos autorreflexivos e autoavaliativos fundamentais aos processos de aprendizagem desses sujeitos. O diário representa uma pausa em um percurso formativo denso, tenso e exigente, que não incentiva momentos de reflexão sobre a própria aprendizagem, distanciando-se do enfoque estritamente técnico e conteudista que marca as práticas formativas em cursos de graduação em Medicina. Além disso, por abordar um tema transversal, o diário pode, com adaptações, ser aplicado em diferentes contextos e níveis de formação, tanto na Medicina quanto em outros segmentos da área da saúde.