Teses em Letras (Doutorado) - PPGL/ILC
URI Permanente para esta coleçãohttps://repositorio.ufpa.br/handle/2011/6713
O Doutorado Acadêmico iniciou-se em 2012 e pertence ao Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) do Instituto de Letras e Comunicação (ILC) da Universidade Federal do Pará (UFPA).
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Tese Acesso aberto (Open Access) Das tramas do mito aos (des)caminhos da história: a travessia do herói nas literaturas cervantiana e rosiana(Universidade Federal do Pará, 2018-08-22) COLLINGE, Márcia Denise da Rocha; JACKSON, Kenneth David; HOLANDA, Sílvio Augusto de Oliveira; http://lattes.cnpq.br/0928175455054278A presente tese consiste numa investigação comparada cujo foco é a constituição dos heróis no Quixote (1605/1615), de Miguel de Cervantes (1547-1616), e no Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa (1908-1967), no intuito de revelar o protagonista Riobaldo como figura análoga ao Cavaleiro da Triste Figura, ao circunvalar a tradição do heroísmo mítico. Do umbral da tradição da Mancha, que enlaça o chefe Urutú Branco e o Cavaleiro dos Leões, ressoam ecos de deidades; de personagens míticos e de referências conceituais de fontes clássicas e medievais. Defendo a proposição de que o Quixote recupera a mitologia que reverbera em clave irônica e atua enquanto gênesis do romance qual gênero, máxime pela recomposição das raízes arcaicas na criação de um herói que se transfigura em mito moderno pelo duplo movimento: 1) ao repropor um saber antigo, 2) justifica e reescreve a história cultural de uma nação. Neste planeamento, aplico os pressupostos da remitificação literária, propostos por Eleazar Mielietinski (1918-2005), para a elaboração do herói everyman nos textos dos corpora. Para tanto, interajo com a figura mítica do herói após o ritual de consagração nos estudos do mito, alinhado ao pensamento de intelectuais como Joseph Campbell (1904-1987) e Gustav Jung (1875-1961). Do diálogo proposto entre esses e outros intérpretes, deslindo as diversas faces do herói, em uma investigação histórico-artística, desde o mito em suas categorias clássicas, tais como o herói épico e o trágico, até seus desdobramentos medievais, barrocos e românticos. Na exegese das obras, apresento a metamorfose do mito literário Dom Quixote, cuja jornada imprime marca indelével ao mosaico heroico universal — qual imagem eterna. O aprofundamento deste estudo revela como o engenhoso cavaleiro assinala-se na memória da literatura brasileira, pelo empoderamento dos temas cervantinos, sobretudo na obra de Guimarães Rosa, o qual entrevê no gênio cervantino dimensões para um novo sistema de criação de heróis — entressachados, cheios de lúcidos intervalos no enganoso sertão mineiro. Alvidro, nas ações do guerreiro Tatarana, claras e esfíngicas marcas manchegas, dentre as quais ressalto: 1) o nascimento maduro; 2) os ciclos e sagas resultantes da busca pela aventura; 3) a evolução psicológica; 4) o mito do duplo; 5) a admiração pela donzela guerreira; 6) o amor como fantasiação; 7) as ambivalentes batalhas marcadas por rituais; 8) o retorno dos heróis; 9) o contar às loucas e 10) o claro-escuro desengano. Desse modo, fundamento o “quixotismo rosiano” — embate inovador à crítica rosiana a partir da leitura quixotesca do romance. É Riobaldo, herdeiro da linhagem de Aquiles, Odisseu, Édipo, Amadis de Gaula, Palmeirim da Inglaterra, Dom Quixote e Roque Guinart quem, ao encarnar valores contraditórios de mescla dos ideais cavalheirescos aos conflitos problemáticos em um mundo à revelia, finca a mensagem do herói mítico, homem humano, na travessia daquele que considero “último clássico”. Desse modo, vislumbro a ampliação da fortuna crítica rosiana, bem como a expansão da tradição da Mancha no Brasil na “inacabável aventura” estético-recepcional transmutada no velar e no desvelar das míticas faces desses heróis, metamorfoses literárias: Dom Riobaldo manchego e o chefe Quixote jagunço.
